Em uma noite conheci uma moça de cabelos vermelhos, com uma atitude superanimada, mesmo no fim de uma jornada de trabalho exaustiva. Depois de um ano, reencontro essa moça pela manhã, com os cabelos totalmente diferentes, mas sem o ânimo característico. Eu já sabia que essa moça não estava muito bem, que passou por vários desafios e infelizmente a saúde estava reclamando. Pude ver a dor nos olhos dela. E, por mais que ela tentasse esconder, eu consegui entender um pouco do que ela sentia, por trás de um bom dia mal-humorado e uma atitude diferente daquela habitual. Dava para ver que ela estava sofrendo. Nesse dia pensei bastante nela, e em toda luta que ela estava passando. Mesmo sem encontrá-la ouvi várias notícias dela, sobre o neuromodulador e também pelo próprio relato da Mary na internet.
Fui trabalhar no mesmo setor dela. Aí sim posso dizer que ouvi muito. Os pacientes, a equipe comentava como ela é uma pessoa maravilhosa, que transforma o local por onde passa. Só elogios. Eu pude ver como a vida dessa moça foi transformada.
Passei por momentos complicados na minha vida pessoal, com o diagnóstico de depressão grave, tentativas de suicídio, ganhei alguns CID pela minha coluna, uma artrodese, lesão medular, problemas de saúde de familiares.
Eu perdi minha essência. Não sabia mais quem era. Não quis mais ter amigos. Só queria dormir e não acordar mais. Não conseguia realizar minhas atividades, mesmo após a artrodese. O que era "somente" depressão revelou-se como 4 hérnias lombares extrusas, e duas hérnias cervicais, e mesmo após a cirurgia, houve piora da dor. E fui piorando da depressão, e depois da dor novamente. Era um ciclo. A dor tirava o pouco de vontade de viver que eu tinha. E aí lembrei da Mary. E como a vida foi transformada após o neuromodulador. Decidi tentar.
O Dr. Bernardo e equipe são ótimos. Nunca fui tão bem atendida. São atenciosos, compreensivos e extremamente competentes.
Com menos de trinta anos, eu não conseguia chegar aos dois mil passos diários. Hoje frequentemente passo dos oito. Tenho dor, ainda estou em uma fase de adaptação, mas nunca pensei que conseguiria me vestir sozinha novamente, por exemplo. Reduzi as medicações pela metade, e não completei nem três meses de cirurgia.
Ainda tenho limitações, mas estou com vontade de viver e de vence-las. Uma a uma, um dia de cada vez.
Tive minha vida transformada. E agora vou recomeçar.